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Post #1 da Série Bahia Afetiva – Moqueca com azeite de dendê

Post #1 da Série Bahia Afetiva – Moqueca com azeite de dendê

Escrito por Vaneza Narciso | Atualizado em:

Seja bem vindo a série Bahia Afetiva com textos que resgatam nossas memórias afetivas em coisas simples do dia a dia. Assim, independente da sua idade, vamos relembrar bons momentos, seja na comida, seja nos saberes e fazeres ou nas paisagens. Neste episódio, venha saborear afetividade na culinária baiana através da moqueca feita com azeite de dendê.

– Tem azeite aqui nessa casa gente? Faz tanto tempo que não preparo uma moquequinha pra gente …

Azeite de dendê traz boas lembranças lá do interior onde eu curtia as férias e observava meu avô preparando o azeite. Primeiramente, ele colhia o dendê que é o fruto da palmeira chamada dendezeiro. Em seguida, com um facão ele cortava o cacho de dendê separando os frutos. Depois, ele colocava pra cozinhar o dendê e em seguida, pilava o dendê até formar um caldo. Por fim, este caldo era fervido e produzia uma borra chamada bambá que era separado do óleo.

Pouco depois, vem o toque especial da minha avó que acrescenta castanha torrada, camarão seco,  algumas folhas de língua de vaca e o resultado era tipo um caruru de folhas. Finalmente, servia os netos que entravam em êxtase com aquela comida tão saborosa. Assim, desfrutávamos de um momento único!

bahia afetiva moqueca

Bahia Afetiva – saberes

Corre ali no mercadinho e traz tempero verde.

Ei!Ei! Vem cá … Não esquece a farinha não, viu?!

Oxente mainha, moqueca sem aquela farofinha, tá doido!

Farinha parece coisa sagrada na comida baiana. Acredito que tá entranhado na gente, assim como o dendê. Mas não pode ser qualquer farinha. Tem que ser torradinha e fina. Mas por que tanta exigência com a farinha, gente? Porque nasci vendo e ajudando meu avô a fazer farinha.

E pra fazer farinha é mais ou menos assim. Primeiro, a gente raspa a mandioca. Depois, põe pra moer. Em seguida, prensa até sair um líquido chamado manipueira, que por sinal é venenoso. Daí, a massa da mandioca é levada pra ser torrada numa grande chapa redonda aquecida pelo fogo a lenha. Embora hoje tenha diminuído a quantidade de casas de farinha e a produção seja feita em cooperativas industrializadas, na Bahia, ainda se mantém a tradição (o saber) da produção de uma farinha fina e de qualidade.

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– Trouxe o feijão fradinho e o arroz branco? Claro mainha!

E eu gosto é de arroz branco que fica grudadinho pra eu colocar o caldo do peixe e ir amassando com o garfo soltando ele todinho.

– Mainha, será que dá pra senhora fazer um vatapá? Dá trabalho né?

– Que nada minha filha! Oxe! Rapidinho eu faço um vatapá de pão que você tanto gosta. 

O vatapá é de origem africana e recebe o nome iorubá de ehba-tápa. Todavia, há vários modos de fazer vatapá (mesmo que alguns sejam “condenados”): de farinha de trigo, de farinha de milho, porém mainha é autêntica (rsrs) e faz com pão.

Tradição

– Tu comprou esse leite de coco, foi?! Tenho ranço desses negoço industrializado, sabia?  Quebre esse coco ali no batente, fazendo o favor … eu vou fazer é meu leite de coco.

– Oxente mainha, um trabalho miserável!

– Que nada … É rapidinho aqui no liquidificador, você vai vê.

Lá na roça não tinha eletricidade, quem dirás liquidificador. Assim, o leite de coco era produzido artesanalmente. Então, as crianças eram designadas para ralar o coco e eu tentava não ralar meu dedo (rsrs) e sempre comia o pedacinho de coco que ficava sem poder ralar. No entanto, para extrair o máximo de leite do coco, vovó pegava o bagaço, colocava num pano e espremia bastante. Mas não havia desperdício não, pois com o bagaço ela fazia um bolo pra mais logo mais a noite pra gente tomar café.

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– Tá quase pronto. Arrume a mesa aí, vá … coloque os pratos, garfo e faca. Cadê seu pai? A comida já tá quase pronta.

Mesa farta e comida posta. Embora seja ritualístico e particular como cada um vê e trata o alimento, essa particularidade (ou toque especial) começa na escolha da matéria prima, passa pelo preparo do produto e se perpetua na maneira em que ele vai ser utilizado. Por fim, ao redor da mesa ou mesmo sentado no chão, com o prato apoiado numa das mãos e a outra amassando o bolinho de comida, vamos sendo nutridos de história, tradição e muito afeto.

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Bahia Afetiva – caruru, pirão e camarão

Agradeço pela sua companhia neste texto e gostaria de ler seu comentário sobre a Bahia Afetiva. Espero você nos próximos episódios. Abraços!

As fotos são do post sobre a Feira de São Joaquim

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Post #2 Bahia Afetiva – banho de rio


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