Se a França tem o Castelo de Versailles, nós soteropolitanos, temos o Palácio Rio Branco. Este histórico prédio foi a primeira sede do governo do Brasil, em 1549, recebeu a família real em 1808 e hospedou Dom Pedro I, em 1826, e Dom Pedro II, em 1859. Desta maneira, um importante edifício no Centro Histórico de Salvador.
PALÁCIO RIO BRANCO – CONSTRUÇÃO
Antes de ser um palácio, havia outras construções por ali, a primeira data de 1549 e era de taipa e pilão. Depois, em 1663, foi construída uma de pedra e cal. Mais pra frente, em 1900, foi reconstruída no estilo neo-renascentista.
No entanto, esta edificação sofreu um bombardeio em 1912. Os tiros de canhão partiram do Forte São Marcelo por causa de José Joaquim Seabra, candidato a governador da Bahia, sob ordens de Hermes da Fonseca, presidente do Brasil e apoiador de J. J. Seabra. Esse governador era muito furioso pro meu gosto, rsrs.
Após o bombardeio de 1912, o Palácio Rio Branco foi reconstruído no estilo pré-modernista em 1919. Recebeu o nome de um grande estadista brasileiro, Barão de Rio Branco.
PALÁCIO RIO BRANCO – FACHADA
Nossa visita começa de fora para dentro. Por isso, se posicione na Praça Municipal de frente para o Palácio e observe os detalhes da fachada. Note que o estilo arquitetônico representado é o da Belle Èpoque e os arquitetos responsáveis foram os italianos Julio Conti e Filinto Santoro.
Procure por duas esculturas, acima da porta de madeira pau d’arco, estas duas esculturas representam a sabedoria e a justiça.
Agora, olhe mais acima para a cúpula. Nas igrejas, a cúpula recebe o nome de Domo e significa lar de Deus, porém no Palácio Rio Branco, significa um lugar ambicioso onde o governador recebe a chave do estado.
Pronto. Já que percebemos a riqueza da fachada do Palácio Rio Branco, agora vamos entrar, ok?
PALÁCIO RIO BRANCO – INTERIOR
SALA DE ESPERA
Qualquer desavisado olhará para esta sala sem se dar conta da aula de história que está a sua vista. Assim, observe os seguintes adornos:
– velho brasão da República com a grafia do nome Brasil ainda com Z;
– a coroa de fumo, produto comercializado na época;
– a coroa de café, outro produto muito forte para a economia do Brasil.
Nesta coroa de café constam os nomes dos estados brasileiros e as datas mais importantes para a história do Brasil: 7 de Setembro de 1822 ( Independência do Brasil), 2 de Julho de 1823 ( Independência da Bahia), 15 de Maio de 1888 ( Abolição da Escravatura) e 15 de Novembro de 1889 (Proclamação da República).
Por fim, as coroas, os estados e as datas estão interligados por uma corda trabalha no estilo manuelino.
SALA DE JANTAR
Não tem como não ficar boquiaberto com o luxuoso teto caixotão de madeira. Olhando para baixo, no rodapé, há várias representações de cenas relacionadas à alimentação.
Mas como este edifício é pura cultura, vem aí uma informação interessantíssima. Para revelar as primeiras pinturas, considerando que o prédio sofreu várias reformas ao longo do tempo, foi usada uma técnica chamada prospecção.
Tal técnica objetiva não só estudar a estrutura arquitetônica como também avaliar sua evolução histórica. Assim, são retiradas várias camadas de tinta até chegar à original. Por isso, foi revelada uma pintura floral muito bonita.
VARANDA
Nesta varanda ampla com vista para Baía de Todos os Santos, temos uma noção da posição estratégica do Palácio de onde se podia ver os navios atracados na baía e o forte São Marcelo. No teto da varanda há um dragão (símbolo de poder) voltado para o mar.
SALA DOS GOVERNADORES OU SALA POMPEANA
Neste espaço, temos o que era Sala do Governador ou Sala Pompeana, aqui foi o gabinete de Antônio Carlos Magalhães, último governador a despachar no Palácio Rio Branco. Hoje funciona anexo da Secretaria de Cultura do Estado.
Algumas pessoas dizem que a Bahia não tem notoriedade intelectual no Brasil. No entanto, foi na Bahia que se fundou em 1724, a primeira Academia de Intelectuais do Brasil, chamada de Academia dos Esquecidos e sua sede era no Palácio Rio Branco. A academia era composta por brasileiros membros da elite intelectual e que tinham a responsabilidade de colher informações sobre o Brasil e enviar tais informações para Portugal. Este material seria anexado a monumental História de Portugal.
SALA DOS ESPELHOS
A Sala dos Espelhos do Palácio Rio Branco era onde ocorriam os bailes e festas. Não é como a sala dos espelhos do Castelo de Versailles, mas tem seu glamour. Embora os móveis não são daquela época, refletem o estilo daquele tempo, ou seja, o estilo Luís XV.
SALA VERDE
Nesta sala, o destaque vai para a pintura abaixo.
Primeiramente, identificamos o autor da obra, que foi o Antônio Parreiras, pintor fluminense contratado pelo governo da Bahia para registrar em tela as cenas reais da luta pela Independência. Em seguida, identificamos o nome da tela que é O Primeiro passo para Independência da Bahia. Por fim, identificamos o cenário retratado que foi a cidade baiana de Cachoeira, e este quadro foi pintado no momento em que os fatos aconteciam.
Mas não esquecemos dos personagens retratados na cena, a saber, no centro da gravura, vemos Manoel Soledade, que tocava tambor no Regimento das Milícias e foi atingido pelas tropas portuguesas e morto.
Por tanto, estamos diante de uma pintura única. Há uma cópia desta, em tamanho menor, na Câmara municipal de Cachoeira, mas com algumas modificações.
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PALÁCIO RIO BRANCO – OBRAS DE ARTES
MOBILIÁRIO
A escadaria principal do Palácio Rio Branco é de ferro inglês e degraus franceses e na sua base dois galos que representam a virtude moral e civil.
Na Sala dos Espelhos, as cadeiras e sofás são no estilo Luiz XV, rei francês. Os móveis não são daquela época, mas refletem o estilo daquele tempo.
PAREDES E TETOS
Sabe aquela história que nem tudo que reluz é ouro? Seguindo esta linha, nem tudo que parece mármore, de fato é mármore. Assim, alguma coisas que parecem mármore, na verdade, é um tipo de revestimento feito em gesso que imita o mármore chamado escaiola. Mas o piso é de mármore verona (rosado) e carrara (branco).
No teto da Sala de Espera, os anjos com asas de borboleta representam os jovens, o futuro da nação. Já as borboletas, representam as transformações da sociedade brasileira naquela época.
No hall do primeiro andar, o teto aparece com os nomes dos estados, os símbolos do comércio e o símbolo da indústria que se desenvolvia naquela época.
Na Sala Verde, observamos no teto várias margaridas. O miolo das margaridas representam os governadores da Bahia. Já as suas pétalas representam os assessores e as rosas, são símbolo da maçonaria.
Na Sala dos Espelhos, temos o mobiliário e a decoração do teto onde vemos os anjinhos que representam a harmonia e alegria dos momentos festivos. Além disso, há representações dos músicos que animavam o salão.
ESCULTURAS
Ao fundo da primeira sala, logo na entrada, temos uma espécie de fonte com uma escultura nua deitada que representa o poder centralizador e talvez seja uma homenagem ao Rio São Francisco.
Após subirmos as escadas, temos a imagem de Tomé de Souza por Giorgio de Chirico, pintor italiano .
Após a visita ao Palácio, que tal visitar o Memorial dos Governadores?
Fiz esta visita em 2014 e não sei como funciona hoje, mas deixo aqui registrado a importância deste edifício e o meu incentivo para que você visite o Palácio Rio Branco.
CLIQUE AQUI E BAIXE ESTA VISITA GUIADA.
Endereço: Praça Municipal Tomé de Souza
Telefone: 71 3116.6928
Horário: de terça a sexta, das 10h – 17h.
PARA REFLEXÃO – O PALÁCIO RIO BRANCO DEVE VIRAR HOTEL
O Palácio Rio Branco é o símbolo da memória de Salvador. Porém, esta memória sofreu um bombardeio por questões políticas em 1912, mas conseguiu sobreviver e renascer.
No entanto, o Palácio Rio Branco estar prestes a sofrer outro bombardeio do setor imobiliário. E desta vez, não sobreviverá e será suplantada pelo capital. Assim, transformar o Palácio em hotel ou submetê-lo a administração da iniciativa privada não é o melhor caminho.
Por isso, reforço que o Palácio Rio Branco em Salvador, deveria estar sempre de portas abertas para receber a todos e a nossa história deveria ser apresentada da melhor maneira possível.
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15 comentários em “Palácio Rio Branco em Salvador – um guia de visita gratuita”
Amei!!!! Seguramente farei isso e vou dá uma de Guia usando as informaçoes deste post pra explicar a quem vai me acompanhar. Obrigada
Oi Nanda!
Que bom que você gostou. A intenção é essa mesmo, compartilhar o conhecimento.
Pra mim, foi uma descoberta e tanto, além de ser gratuito.
Bjs!
Quantas coisas lindas tem a Bahia!!!!
Bjs, Neza
Cláudia
Oi Cláudia,
Gostei muito da conservação dos tetos. São verdadeiras obras de arte.
Bjs!
Muito bom!!!!Vou sempre no Pelourinho, mas ainda não entrei no Palácio..Nem precisa dizer que agora sim vou lá…Bjs, Obrigada!!
Oi Cris,
Eu também desconhecia uma beleza tão próxima dos soteropolitanos.
Obrigada pela visita.
Bjs!
Lindo d+
Valeu Mari! Bjs.
Desde criança admiro esse palácio mas achava que, por ser do governador, não se podia visitá-lo. Parabéns pelo esclarecedor post e pelo bom gosto das fotos! Edison Lima
Olá Edson,
Incrível como algumas belezas ficam "escondidas" da gente. Mas como podemos ver a visitação é pública e o palácio muito bonito.
Muito obrigada pela visita!
Abraços.
Excelente, parabéns pelo belíssimo trabalho. Tive oportunidade de conhecer cada detalhe deste palácio quando fiz minha graduação em turismo.
Olá Lu!
Sempre bom relembrar e revisitar nossa história.
Muito obrigada pelo comentário e visita!
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