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Passeio de barco pelo Rio Paraguaçu

Passeio de barco pelo Rio Paraguaçu

Escrito por Vaneza Narciso | Atualizado em:

Uma novela da Globo, Velho Chico, foi gravada em várias partes do Nordeste e um dos lugares escolhido foi o Recôncavo Baiano. É nesta região que temos a essência do povo baiano. Aquela que conta nossa história e nossa cultura. E foi nos dias da gravação que por coincidência, tive a oportunidade de fazer um passeio de barco pelo Rio Paraguaçu, com minha família. E sem dúvida, é um dos melhores passeios que pode existir!






Sempre visitamos esta região, pois meu pai é de Acupe, distrito de Saubara e temos casa em São Braz, povoado de Santo Amaro da Purificação. Numa dessas visitas vi no porto de Cachoeira, o telefone do senhor Bim, que faz passeios de barco pelo Rio Paraguaçu. Me animei, e prometi que na próxima vez, faria este passeio. E a oportunidade foi no Carnaval. Com antecedência de uns 7 dias, entrei em contato e marquei. Um dia antes, confirmei. Saímos de São Braz por volta das 8h rumo à Cachoeira. Chegando lá, liguei para o senhor Bim que me informou que o senhor Vadinho faria a navegação.






Porto de Cachoeira
Na verdade, eu pensava que era um passeio organizado, em que o barqueiro iria dando explicações históricas da região e das construções. Mas a função do barqueiro é simplesmente conduzir o barco e parar onde for solicitado. Assim, logo na saída, eu perguntei ao senhor Bim, qual seria o trajeto. Ele disse que seria até Coqueiros, mas eu queria ver a Igreja e Convento Santo Antônio, em São Francisco do Paraguaçu, um pouco relutante, ele disse que poderia ir até lá, mas que estava fechado, pois havia gravação da novela da Globo, Velho Chico. Por isso, é bom ter uma ideia do que você quer ver e um roteiro pronto para avisar ao barqueiro o que você vai fazer. Tudo bem… Já deu pra perceber que quem manda é quem tá pagando, então zarpamos.
Rio Paraguaçu 
É o maior rio genuinamente baiano. O nome “Paraguaçu” é de origem tupi e significa “mar grande”, através da junção dos termos pará (“mar”) e gûasu(“grande”) . No Brasil Colônia, foi escrito de várias formas: Paraguaçu, Paraoçu, Paraossu, Peroguaçu, Perasu, Peoassu e Peruassu.
Segundo historiadores, em 1504 os franceses já negociavam escravos com os nativos. E dizem até que o rio foi descoberto por Cristovão Jacques que encontrou duas naus francesas ancoradas no baixo Paraguaçu comerciando com os indígenas, e as afundou.



Nosso roteiro
O Rio Paraguaçu, nasce no Morro do Ouro, Serra do Cocal, município de Barra da Estiva, Chapada Diamantina. Tem 600 km de curso, ao longo do qual banha cidades importantes, inclusive sob o ponto de vista turístico, a exemplo de Cachoeira, Maragogipe,São Félix e outras. É navegável em seu baixo curso, da foz até as cidades de Cachoeira e São Félix, passa por Maragogipe num percurso de 46 km. Ao longo do trecho navegável acham-se duas ilhas, a de Monte Cristo e a Ilha dos Franceses, razão pela qual é considerado um rio turístico. 
A Barragem da Pedra do Cavalo , construída em 1982, represa as águas do Rio logo acima das cidades de Cachoeira e São Félix e foi uma obra que evitou que estas cidades fossem inundadas. 
Uma semana antes, todas as comportas estavam abertas, devido as fortes chuvas na cabeceira do Rio Paraguaçu. Fiquei temerosa de não poder fazer este passeio por conta disso, mas durante o Carnaval, apenas uma das comportas estava aberta e foi possível navegar tranquilamente. Em alguns trecho com a maré baixa, o barco precisou passar bem devagar.





Para entender um pouco desta região, nada melhor que bebermos água dos livros e estudos históricos: 
“Menos de quatro décadas depois da fundação de Salvador, Gabriel Soares de Souza (colono agrícola) contava no Recôncavo 16 freguesias, 62 igrejas, 3 mosteiros de religiosos, 8 casas de cozer meles, 36 engenhos moentes e correntes, dos quais 15 eram movidos por bois. Outros quatro engenhos estavam sendo construídos e a produção de açúcar ultrapassava as 120.000 arroubas. (SOUZA, 1971, p. 162) No final do século XVI, o rio Paraguaçu, desde o lagamar do Iguape até o seu trecho encachoeirado, estava povoado em ambas as margens.”



Engenho da Vitória
O Recôncavo era habitado pelos índios tapuias que foram expulsos para a implantação da cana de açúcar. A plantação do tabaco se desenvolveu predominantemente entre as cidades de Cruz das Almas, passando por São Gonçalo dos Campos até Alagoinhas. Uma Lei de 1688, reforçada por outra de 1701, proibia a criação de gado próximo ao rio para que não houvesse uma competição com os canaviais e a lavoura de fumo. No final do século XVIII existiam na Bahia 276 engenhos. 
Sentindo o barco balançar e o ventinho que nos refrescava, embelezava ainda mais as águas do Paraguaçu, avistar os saveiros. Para falar dos saveiros, precisamos de um outro post e espero suprir esta necessidade futuramente. Por hora, vale citar o que Gabriel Soares afirmou em 1587: 
“1400 embarcações podiam ser facilmente requisitadas no Recôncavo se o serviço real necessitasse. Todos os que ali viviam tinham seu barco ou canoa. Os escravos e os pobres comiam quase exclusivamente farinha de mandioca, peixes e mariscos. (AZEVEDO, 1982, p. 11-16)” 
E não posso deixar de mencionar a grande importância destes saveiros: 
“Nestes portos, terra adentro, a produção local de açúcar, cachaça, fumo e farinha era embarcada em saveiros para Salvador para serem exportadas. Outros produtos, como azeite de dendê, piaçava, peixe seco, cerâmicos, bem como os vindos do sertão – bois, carne seca, couro e salitre – eram enviados à capital e a outras vilas e povoações da Baía de Todos os Santos, para consumo local. No retorno de Salvador os saveiros, tangidos pela viração da tarde, traziam escravos africanos e produtos importados da metrópole, como tecidos, ferramentas, pólvora, bacalhau, azeite e vinho, que nessas vilas parte trocava o saveiro pelo lombo do burro para chegar ao sertão e às barrancas do São Francisco.” 
E assim, percebemos constantemente, pessoas pescando e transitando quer por lazer, quer por ofício, através do Rio Paraguaçu. 







Os rios foram importantes para expansão dos engenhos e escoamento de produção agrícola, bem como para criação de povoados e vilas. Como exemplo: 
“No final do século XVII, são elevados a vila os principais portos da região: Jaguaripe em dezembro de 1697, Cachoeira em janeiro de 1698 e S. Francisco do Conde em fevereiro do mesmo ano. Curiosamente os termos dessas vilas são as bacias dos rios que banham essas vilas. O maior desses termos, o de Cachoeira, ia dos atuais municípios de Santo Amaro, a leste, Santa Barbara e Ipirá, ao norte, Rui Barbosa e Lajedinho, a oeste, e Brejões e Amargosa, ao sul.” 
O Recôncavo é um local de resistência, local de concentração de negros, o que favoreceu os constantes levantes. Vale citar o seguinte:
Em 1827, novos levantes ocorreram em Cachoeira e em São Francisco do Conde, sem, no entanto, aparecerem reis e/ou rainhas. Em 22 de março de 1827, sublevaram- -se os escravos do engenho Vitória, localizado às margens do Rio Paraguaçu. No ano seguinte, novas rebeliões ocorreram em Cachoeira e, no segundo semestre, um audacioso levante teve como palco o coração da zona canavieira, o Iguape, local de grande concentração escrava. ” (REIS, 2003, p. 115) 
Depois de umas 2h de navegação rio a baixo, chegamos na tão aguardada Igreja e Convento do Santo Antônio, em São Francisco do Paraguaçu. Como eu havia dito, ela estava fechada para a gravação da novela da Globo. Não fiquei triste, pois por terra também temos acesso. Um dia iremos de carro …


O Convento foi fundado em 1649, mas a construção só começa em 1658. Primeiro, constrói-se uma capela e posteriormente uma igreja cuja construção levou 2 anos, enquanto que o Convento levou 28 anos para ser construído. Este foi o primeiro convento a ser estabelecido no Brasil e neste, funcionou um Noviciado, o segundo a ser construído no Brasil, onde se admitia jovens para serem sacerdotes. Aqui funcionou durante 43 anos o Hospital de Nossa Senhora de Belém que ofereceu suporte quando ocorreu a epidemia da febre amarela em 1686.



Arquitetura barroca com influência indiana. Reflexo da autonomia dos franciscano em seus projetos arquitetônicos. 
Para almoçar há a opção de parar em Coqueiros ( muito conhecida pelo produção de cerâmica), Nagé ou Ponta de Souza em Maragogipe. Como não conhecíamos nada, optamos por descer em Ponta de Souza, acreditando que a praia daria para as crianças tomar banho, mas a praia é horrível. Ninguém se animou a banhar-se. Logo no início, tem as barracas com som altíssimo e andando mais um pouco, encontramos uma barraca com um ambiente tranquilo. Havia chuveiro e cadeira de sol. Um local muito bom, é a última barraca caminhando pela orla.
E daqui, podemos avistar uma das cenas mais lindas no Rio Paraguaçu:
Dois patrimônios da Bahia: Igreja e Convento Santo Antônio do Paraguaçu e os saveiros. Um momento único!
Pedimos uma moqueca mista ( não tem como ser outra coisa, rsrsr) de ostra e siri, acompanhada de arroz, feijão, pirão (esse é de lei, não pode faltar!) e farofa, tudo por 60 reais.






Praia de Ponta de Souza, Maragogipe


Durante o tempo em que ficamos almoçando, o senhor Vadinho, ficou no barco nos esperando. Foi engraçado, pois quando chegamos em Ponta de Souza a maré estava baixa, andamos na areia. Mas quando retornamos, imaginamos que estávamos ilhados. A maré subiu e andamos até o barco com água nos joelhos, mas foi tranquilo, ao nosso redor as crianças se divertiam. 
Daí, subimos o Rio admirando a bela paisagem. Mas desta vez, com um pouco de sono. Procuramos um lugar de sombra na embarcação e aproveitamos para bater papo, cantar, tirar fotos, tentar fazer o mudo do barqueiro falar e o tempo passou rápido. Chegamos em Cachoeira por volta das 15h. Pagamos pelo passeio e voltamos para São Braz. E como resumir este passeio? Com o seguinte trecho do livro Baía de Todos os Santos, Ufba: 
Beleza e simplicidade marginal
“No sentimento dos nativos, Cachoeira integra, pois, a Baía de Todos os Santos, em cuja antessala – a fecunda Baía do Iguape – o Paraguaçu se derrama, espelhando a graça de Maragogipe, a beleza das vilas de Nagé e Santiago, as ruínas místicas de São Francisco do Paraguaçu e as lembranças das sangrentas batalhas da Ilha do Francês.” 



Nagé
Não se contente com este post, clique aqui para ver 76 fotos deste lindo passeio.

Igreja em Coqueiros



A bela São Félix
O barqueiro quase não abria a boca. Respondia apenas o que fosse perguntado. Mas a beleza do Rio Paraguaçu e a alegria de estarmos ali, sobrepujou em grande maneira esta deficiência. Embora a novela da Globo tenha como um dos cenários, o Recôncavo Baiano, este é um passeio obrigatório para quem quer conhecer a essência e as belezas da Bahia que estão fora da mídia, mas estão em nossa cultura e em nosso sangue. 
– fizemos o passeio num barco de madeira, lento e zuadento, mas hoje o passeio é feito numa lancha e tem colete salva vidas. Cabe até 5 pessoas;
– não é oferecido alimentação. Leve sua farofa, rsrs; 
– é bom sair cedo de Cachoeira, por volta das 9h, assim você aproveita muito mais; 
– acredito que parar em Coqueiros para almoçar é mais proveitoso que em Ponta de Souza, já que não dá para tomar banho na segunda; 
– use bastante protetor solar, leve uma canga para se proteger do sol, lanches e água para distrair a fome; 
– já mencionei, mas vou repetir: tenha um roteiro para passar pro barqueiro, ele só tem a função de te levar de um ponto a outro, infelizmente… ; 
– dá pra fazer um bate volta desde Salvador? Dá sim, mas é cansativo. Sugiro que você chegue cedo para fazer este passeio, se hospede em Cachoeira, conheça um pouco da cidade noutro dia e retorne para Salvador; 
Segue o contato do Sr Bim- 75 999799650 (Vivo)/ 983077496 (Claro) para você tirar todas as dúvidas. 
Fontes consultadas: 
Você pode enriquecer este post, deixe seu comentário com sua sugestão, dica e opinião!
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3 comentários em “Passeio de barco pelo Rio Paraguaçu”

  1. Olá!!! Boa noite, Vaneza com Z.
    Fazendo uma pesquisa sobre o tal Convento franciscano de paraguaçu, me deparei com o seu blog. Gostei das fotos e do texto. Só que li, sobre a referência de ser, este Convento, em Paraguaçu, o primeiro da ordem franciscana, no Brasil. Portanto, me permita uma ressalva. O primeiro Convento em terras brasileiras, da Ordem franciscana, foi construído em Olinda, no ano de 1585. Portanto, o convento franciscano mais antigo, no Brasil. O conjunto é composto pela Igreja de Nossa Senhora das Neves, a Capela de São Roque (que pertence á ordem terceira), o claustro e a sacristia. Tem uma biblioteca constituída de obras raras, considerada a primeira biblioteca pública de Pernambuco. É tombado pelo IPHAN e considerado Patrimônio da Humanidade, pelo UNESCO. Abração.

    1. Obrigada Rui por sua contribuição.

      É como você colocou mesmo. O berço da ordem franciscana é em Olinda.

      "Os frades franciscanos produziram no nordeste do Brasil
      colonial uma linguagem arquitetônica singular através de
      treze conventos da Ordem, que foram classificados por
      Bazin (1983) como componentes de uma assim chamada
      “Escola Franciscana do Nordeste”."

      Abraços e obrigada pela visita ao Blog!

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